
Borboleta Azul
A primavera fez florir o canteiro, e uma bela ixória chinesa desabrochou em flor. Borboletas amarelas sempre aparecem para dar o ar da graça em um imenso quintal arborizado, de gramado verde, pedras nativas espalhadas, algumas fruteiras, colinas verdejantes ao redor e um imenso céu azul para contemplar.
De repente, uma linda borboleta azul adentrou pelos fundos da casa. Voou pela cozinha e foi ao encontro da dona da casa, que se ocupava dos afazeres domésticos. Estranhamente, a borboleta chamou sua atenção. A borboleta não parecia ter pressa. Diferente das outras, não fugia, não se assustava. Parava nas paredes como quem escolhe ficar. Quando fechava as asas, era quase comum, marrom, marcada por manchas circulares escuras. Mas, ao voar e abrir as asas, revelava-se azul intenso - bela, impossível de não admirar.
Confesso que parei tudo para observá-la, uma visita inesperada. A casa ficou em silêncio, e por alguns minutos o tempo pareceu desacelerar. Ela atravessou a sala, o corredor, visitou os quartos, até decidir permanecer na parede do quarto do casal. Dali não saiu mais. No silêncio do quarto, a borboleta azul permaneceu imóvel, como se ali tivesse encontrado o lugar exato onde o tempo repousa.
Foi então que pensei em guardá-la. Achei bonita demais para simplesmente ir embora. Peguei um livro e, abrindo suas páginas próximas à borboleta, guardei-a ali entre as folhas. E o mais estranho: ela não bateu asas, não tentou escapar. Aceitou. Como se aquele recolhimento também fizesse parte de seu destino, ou mistérios maiores.
Alguns dias depois, a moldura foi comprada. A mais bela, daquelas que enchem os olhos, foi escolhida para emoldurar a borboleta azul. Será que a forma pensada foi a correta? Ainda assim, tudo insistia em permanecer com sentido. O quadro ficou lindo, foi colocado na parede da sala, para adornar a casa, com uma história materializada.
Quem sabe, a borboleta azul foi um recado delicado da vida, ou Deus lembrando que Ele passa por nós em forma de leveza? Assim como aconteceu com o profeta Elias, que buscou a Deus no monte e não o encontrou no vento forte, nem no terremoto, nem no fogo. Deus se revelou na suavidade, no silêncio — numa brisa leve. Ali, Sua presença foi percebida pela sensibilidade espiritual.
Assim também a borboleta azul. Não exigiu explicações. Veio mansa, silenciosa, e deixou sua mensagem àqueles que sabem escutar e enxergar com o coração, num dia comum de setembro.
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