quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

Quem sou eu?

 

QUEM SOU EU?

Quem sou eu?
Que importa quem?
Sou um trovador proscrito,
Que trago na fronte escrito
Esta palavra - Ninguém ! -
A. E. Zaluar — «Dores e flores»


Amo o pobre, deixo o rico,
Vivo como o Tico-tico;
Não me envolvo em torvelinho,
Vivo só no meu cantinho:
Da grandeza sempre longe
Como vive o pobre monge.
Tenho mui poucos amigos,
Porém bons, que são antigos,
Fujo sempre à hipocrisia,
À sandice, à fidalguia;
Das manadas de Barões?
Anjo Bento, antes trovões.
Faço versos, não sou vate,
Digo muito disparate,
Mas só rendo obediência
Á virtude, á inteligência;
Eis aqui o Getulino,
Que no plectro anda mofino.
Sei que é louco e que é pateta
Quem se mete a ser poeta;
Que no século das luzes,
Os birbantes mais lapuzes,
Compram negros e comendas
Tem brasões, não - das Calendas
E, com tretas e com furtos
Vão subindo a passos curtos;
Fazem grossa pepineira,
Só pela arte do Vieira,
E com jeito e proteções,
Galgam altas posições!
Mas eu sempre vigiando
Nessa súcia vou malhando
De tratantes, bem ou mal,
Com semblante festival.
Dou de rijo no pedante
De pílulas fabricante,
Que blasona arte divina,
Com sulfatos de quinina,
Trabuzanas, xaropadas,
E mil outras patacoadas,
Que, sem pingo de rubor
Diz a todos, que é DOUTOR!
Não tolero o magistrado,
Que do brio descuidado,
Vende a lei, trai a justiça
- Faz a todos injustiça -
Com rigor deprime o pobre,
Presta abrigo ao rico, ao nobre,
E só acha horrendo o crime
No mendigo, que deprime.
- N'este dou com dupla força,
Té que a manha perca ou torça,
Fujo às léguas do logista,
Do beato e do sacrista -
Crocodilos disfarçados,
Que se fazem muito honrados,
Mas que, tendo ocasião,
São mais ferozes que o Leão.
Fujo ao cego lisonjeiro,
Que, qual ramo de salgueiro,
Maleável, sem firmeza,
Vive á lei da natureza;
Que, conforme sopra o vento,
Dá mil voltas num momento.
O que sou, e como penso,
Aqui vai com todo senso,
Posto que já veja irados
Muitos lorpas enfumados
Vomitando maldições,
Contra as minhas reflexões.
Eu bem sei que sou qual Grilo,
De maçante e mau estilo;
E que os homens poderosos
D'esta arenga receosos
Hão de chamar-me - tagarelo,
Bode, negro, Mongibelo;
Porém eu que não me abalo,
Vou tangendo o meu badalo,
Com repique impertinente,
Pondo a trote muita gente.
Se negro sou, ou sou bode,
Pouco importa. O que isto pode?
Bodes há de toda a casta,
Pois que é a espécie é muito
vasta ...
Há cizentos, há rajados,
Baios, pampas e malhados,
Bodes negros, bodes brancos,
E, sejamos todos francos,
Uns plebeus, e outros nobres,
Bodes ricos, bodes pobres,
Bodes sábios, importantes,
E também alguns tratantes ...
Aqui, n'esta boa terra,
Marram todos, tudo berra;
Nobres condes e Duquesas [,]
Ricas Damas e Marquesas,
Deputados, senadores,
Gentíns-homens, vereadores;
Belas Damas emproadas,
De nobreza empantufadas;
Repimpados principotes,
Orgulhosos fidalgotes,
Frades, Bispos, Cardeais,
Fanfarrões imperiais,
Gentes pobres, nobres gentes,
Em todos há meus parentes.
Entre a brava militança
Fulge e brilha alta bodança;
Guardas, Cabos, Furriéis,
Brigadeiros, Coronéis,
Capitães de mar e guerra,
- Tudo marra, tudo berra -
Na suprema eternidade,
Onde habita a Divindade,
Bodes há santificados,
Que por nós são adorados.
Entre o coro dos Anjinhos
Também há muitos bodinhos.
O amante de Siringa
Tinha pêlo e má catinga;
O deus mendes, pelas contas,
Na cabeça tinha pontas;
Jove quando foi menini,
Chupitou leite caprino;
E, segundo o antigo mito,
Também Fauno foi cabrito.
Nos domínios de Plutão,
Guarda um bode o Alcorão;
Nos lundus e nas modinhas
São cantadas as bodinhas;
Pois se todos têm rabicho,
Para que tanto capricho?
Haja paz, haja alegria,
Folgue e brinque a bodaria;
Cesse, pois, a matinada,
Porque tudo é bodarrada!
Luiz Gama
junho 1830 - agosto 1882

Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu no dia 21 de junho de 1830, no estado da Bahia. Era filho de um fidalgo português e de Luiza Mahin, negra livre que participou de diversas insurreições de escravos. Em 1840 foi vendido como escravo pelo pai para pagar uma dívida de jogo. Transportado para o Rio de Janeiro, foi comprado pelo alferes Antônio Pereira Cardoso e passou por diversas cidades de São Paulo até ser levado ao município de Lorena.Em 1847, quando tinha dezessete anos, Luiz Gama foi alfabetizado pelo estudante Antônio Rodrigues de Araújo, que havia se hospedado na fazenda de Antônio Pereira Cardoso. Aos dezoito anos fugiu para São Paulo.Em 1848 alistou-se na Força Pública da Província ou Corpo de Força da Linha de São Paulo, entidade na qual se graduou cabo e permaneceu até o ano de 1854 quando deu baixa por um incidente que ele classificou como “suposta insubordinação”, já que apenas se limitara a responder insulto de um oficial.Em 1850 casou-se e tentou freqüentar o Curso de Direito do Largo do São Francisco – hoje denominada Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Por ser negro, enfrentou a hostilidade de professores e alunos, mas persistiu como ouvinte das aulas. Não concluiu o curso, mas o conhecimento adquirido permitiu que atuasse na defesa jurídica de negros escravos.Na década de 1860 destacou-se como jornalista e colaborador de diversos periódicos progressistas. Projetou-se na literatura em função de seus poemas, nos quais satirizava a aristocracia e os poderosos de seu tempo. Hoje, é reconhecido como um dos grandes representantes da segunda geração do romantismo brasileiro, mas na época enfrentou a oposição dos acadêmicos conservadores..

Luiz Gama foi um dos maiores líderes abolicionistas do Brasil. Sempre esteve engajado nos movimentos contra a escravidão e a favor da liberdade dos negros. Em 1869, fundou com Rui Barbosa o Jornal Radical Paulistano. Em 1880 foi líder da Mocidade Abolicionista e Republicana. Devido a sua luta a favor da libertação dos escravos era hostilizado pelo Partido Conservador e chegou a ser demitido do cargo de amanuense por motivos políticos.

Nos Tribunais, usando de sua oratória impecável e seus conhecimentos jurídicos, conseguiu libertar mais de 500 escravos, algumas estimativas falam em 1000 escravos. As causas eram diversas, muitas envolviam negros que podiam pagar cartas de alforria, mas eram impedidos pelos seus senhores de serem libertos, ou que haviam entrado no território nacional após a proibição do tráfico negreiro em 1850. Luiz Gama também ganhou notoriedade por defender que ao matar seu senhor, o escravo agia em legítima defesa.

Faleceu em 24 de agosto de 1882 e foi sepultado no Cemitério da Consolação, na presença de 3.000 pessoas numa São Paulo de 40.000 habitantes. O poeta Raul Pompéia (1863-1895) imortalizou Luiz Gama e seus feitos escrevendo na ocasião:

(…) não sei que grandeza admirava naquele advogado, a receber constantemente em casa um mundo de gente faminta de liberdade, uns escravos humildes, esfarrapados, implorando libertação, como quem pede esmola; outros mostrando as mãos inflamadas e sangrentas das pancadas que lhes dera um bárbaro senhor; outros… inúmeros. E Luís Gama os recebia a todos com a sua aspereza afável e atraente; e a todos satisfazia, praticando as mas angélicas ações, por entre uma saraivada de grossas pilhérias de velho sargento. Toda essa clientela miserável saía satisfeita, levando este uma consolação, aquele uma promessa, outro a liberdade, alguns um conselho fortificante. E Luís Gama fazia tudo: libertava, consolava, dava conselhos, demandava, sacrificava-se, lutava, exauria-se no próprio ardor, como uma candeia ilumi nando à custa da própria vida as trevas do desespero daquele povo de infelizes, sem auferir uma sobra de lucro… E, por essa filosofia, empenhava-se de corpo e alma, fazia-se matar pelo bom…Pobre, muito pobre, deixava para os outros tudo o que lhe vinha das mãos de algum cliente mais abastado.“ (Fonte: institutoluizgama.org.br)
* epígrafe = citação que se coloca no princípio de um livro (poema, conto, capítulo etc) servindo de resumo para o assunto que será abordado e, além disso, apresentando o sentido e a motivação da obra. Elemento motivador. (fonte:google) 
Quem sou eu ?
Que importa quem ?
Sou um trovador proscrito,
Que trago na fronte escrito
Esta palavra — Ninguém ! —

A. E. Zaluar — «Dores e flores»

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Quando deres esmola

 

Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, ao dares a esmola, ignore a tua mão esquerda, o que faz a tua mão direita, para que a tua esmola fique em secreto, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. 
(Mateus 6, 2-4)

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Quem é mais inteligente?


O pai fez um bilhete, o desenho acima, e mandou a filha entregar o bilhete ao senhor Manoel Vermelho, o dono da Bodega, pois estava precisando comprar alimento pra casa. 
Um O com o no meio = compadre Mané vermelho 
Um O com o de banda = compadre você me manda
Um O com ozinho = um quilo de toucinho 
Um O com ozão = uma barra de sabão
Um O com o na frente = uma garrafa de aguardente
A filha levou para casa:
Um toucinho, um sabão, uma garra de aguardente

Agora pergunto: Quem é mais inteligente?
O pai que só sabia fazer o O ou o bodegueiro que só sabia decifrar o bilhete.
(fonte google)

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Parábola judaica



Um rabino que era muito respeitado onde ele vivia, tinha muitos alunos, discípulos ... E quando ele estava morrendo, o aluno preferido dele perguntou assim: Moshê, o senhor daqui a pouco vai estar diante do criador ... O que o senhor vai falar quando estiver dele? E se o criador perguntar para o senhor porque que você não foi melhor, porque você não foi mais parecido com ele ... Então Moshê olhou para o seu aluno e disse assim: meu filho, eu não estou preocupado com isso. Eu estou preocupado é se o criador me perguntar: Moshê, por que você não foi Moshê?
(fonte:google)

domingo, 21 de janeiro de 2024

Cantar e sorrir


Cantar e Sorrir
Rocaciano Leite

 Quando falas porque vivo sorrindo
Também falas porque vivo cantando
Se a vida é bela e esse mundo é lindo
Não há razão para viver chorando


Cantar é sempre o que fazer eu ando
Sorrir é sempre meu prazer infinito
Se canto e rio é porque vivo amando
Se amo e canto é porque vivo rindo

Se o pranto morre quando nasce o canto
Eu canto e rio pra matar o pranto
E gosto muito de quem canta e ri

Logo bem vês por esses dotes meus
Que quando canto estou pensando em Deus
E quando choro estou pensando em ti.

sábado, 20 de janeiro de 2024

Café coado


Café coado

Três da tarde
Não tem mais café na mesa
Esvaziaram a garrafa
Tiraram a tampa da manteiga
Deixaram tudo arrumado
E um vazio na cadeira.
O café só é coado
Com a chegada da visita
Ou é alguém que solicita.
Ofereço de bom agrado
São goles de uma boa conversa
E vamos seguindo a vida.
O café às vezes sai chocho
Com muito ou pouco açúcar
Esforço pra ficar no ponto
Não carrego nenhuma culpa
É que falta aquela pitada
Uma presença inabalada.
O pó, o açúcar, a mesa
As duas cadeiras intactas
As xícaras viraram cacos
O mundo ficou mudado
A tarde ficou mais triste
Sem cheiro de café coado.
Três da tarde
Quanta lembrança!
O voo muito alto
Foi para casa, pra morada
Que está bem preparada
Desde a fundação do mundo.
E hoje faço uma pergunta
A quem é mais achegado
- Tem café aí?
Pois não tenho café coado.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

A vida é incrível!


A vida é incrível. E depois é difícil. E depois é incrível  de novo. E entre o incrível  e o horrível, a vida é comum e rotineira. Respire o incrível, segure-se durante o horrível, relaxe e exale durante o comum. É apenas a vida, desoladora, curadorada da alma, incrível, horrível e comum. E ela é impressionantemente bela. (L.R. Knost)

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

No sítio do vovô tem


 Quanto sabor tem uma pinha
Para alguém que tanto gosta
É uma fruta cheia de gomos
Muitas sementes e deliciosa.

Sentindo o paladar
Separo polpa da semente
O gosto é de uma infância doce
Que não sai da minha mente.

bereniceseixas

 

Acerola, cajá, jabuticaba, coco, tamarindo, pinha, limão, romã, carambola ... capim cidreira, erva cidreira, boldo, boldo chinês, alfavaca ...