sábado, 4 de junho de 2011

Adélia Prado

Após uma década de silêncio, a escritora mineira Adélia Prado lança o livro de poesias " A Duração do Dia". Os temas que sempre lhe estimularam, como o amor, o divino, o sofrimento e a passagem do tempo estão de volta em muitos momentos. " A Duração do Dia" já iniciou faturando premiações, como o Prêmio Literário da Fundação da Biblioteca Nacional e a estatueta da Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA), ambos na categoria de poesia.Para a autora Adélia Prado de 75 anos, nascida em Divinópolis, Minas Gerais, a poesia e a fé são manifestações de revelação da realidade através de um processo divino, a mesma fonte da graça.


TÃO BOM AQUI
Me escondo no porão
para melhor aproveitar o dia
e seu plantel de cigarras.
Entrei aqui pra rezar,
agradecer a Deus este conforto gigante.
Meu corpo velho descansa regalado,
tenho sono e posso dormir,
tendo comido e bebido sem pagar.
O dia lá fora é quente,
a água na bilha é fresca,
acredito que sugestiono elétrons.
Eu só quero saber do microcosmo,
o de tanta realidade que nem há.
Na partícula visível de poeira
em onda invisível dança a luz.
Ao cheiro de café minhas narinas vibram,
alguém vai me chamar.
Responderei amorosa,
refeita de sono bom.
Fora que alguém me ama,
eu nada sei de mim.

Em A Duração do Dia, por exemplo, há um poema, O Ditador na Prisão, em que Adélia trata do ex-presidente iraquiano Saddam Hussein. "A poesia não é nem nasce necessariamente do bem-estar", afirma. "Ela vem apesar e por causa de tudo. Por isso nos consola tanto. A tristeza num poema é alegria, ainda que lacrimosa."

Apesar da variedade de temas (há até uma poesia intitulada Harry Potter, em que ela relembra brincadeiras com galinhas da época de criança), Adélia acredita revelar-se por meio dos versos. "Penso que um autor se escreve", observa. "Seu texto é ele mesmo, nem ficção científica escapa. Portanto, se faz uma coisa só, vista a luzes e profundidades diferentes. Do meu limite não há como sair."

Graças a Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Adélia publicou "Bagagem" (1976), seu primeiro livro. O escritor Affonso Romano de Sant'Anna enviou os originais da obra para a apreciação do poeta. Drummond considerou os poemas fenomenais e indicou sua publicação. À época, Adélia tinha 40 anos.
Dois anos depois, ela ganhou o prêmio Jabuti por "O Coração Disparado". Em 2006, estreou na literatura infantil com "Quando Eu Era Pequena". Adélia é autora de "Filandras", "Terras de Santa Cruz", "Quero Minha Mãe", "O Pelicano", "Oráculos de Maio", entre outros volumes.
(fonte:net)

Nenhum comentário:

Postar um comentário