quinta-feira, 11 de junho de 2020

Pássaros Proibidos


Pássaros Proibidos 
Eduardo Galeano

Nos tempos da ditadura militar, os presos políticos uruguaios não podiam falar sem licença, assoviar, sorrir, cantar, caminhar rápido nem cumprimentar outro preso. Tampouco podiam desenhar nem receber desenhos de mulheres grávidas, casais, borboletas, estrelas ou pássaros.
Didaskó Pérez, professor, preso e torturado por idéias ideológicas, recebe num domingo a visita de sua filha Milay, de cinco anos. A filha traz para ele um desenho de pássaros. Os censores o rasgam na entrada da cadeia. 
No domingo seguinte, Milay traz para o pai um desenho de árvores. Ás árvores não estão proibidas, e o desenho passa. Didaskó elogia a obra e pergunta à filha o que são os pequenos círculos coloridos que aparecem nas copas das árvores, entre a ramagem:
São laranjas? Que frutas são?
A menina o faz calar:
- Shhhh.
E em tom de segredo explica:
- Bobo. Não está vendo que são olhos? Os olhos dos pássaros que eu trouxe escondidos para você.
***

Em tempo de difícil compreensão no mundo, envolvendo o coronavírus, a política, a economia, a saúde, esse texto do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano me levou a uma bela reflexão  ao entardecer. É um texto forte e ao mesmo tempo sensíve, e cheio de arte. Que possamos encontrar nossa Milay nesse momento de pandemia, para burlar nossa tristeza e nos revelar os mais belos pássaros! Vamos ter esperança! Vai passar!

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