quinta-feira, 10 de março de 2022

Pela estrada afora!

No final de semana, à tardinha, era dia de pegar a estrada de terra batida e enfrentar uma longa caminhada a pé, com destino a serra do Palmital, isso década de setenta. A estrada causava encantamento na menina, que percorria o caminho admirada com a natureza e com tudo aquilo que sobressaltava diante dos seus olhos, até chegar ao seu destino. Sua conexão emocional com o lugar é sublime. 

Primeiro, uma singela igrejinha, um pouco abandonada no alto do morro, com um lindo coreto ao lado, fascinava sua imaginação, pois por vezes via-se uma velha beata solitária com o terço na mão, adentrando aquele templo. Mal sabia a menina que, muitos anos depois, o seu amor seria sacramentado no altar daquele lugar. Por uma rua de poucas casas, passava a menina, mas havia uma casa, a última da rua, do lado direito, que chamava muito sua atenção: era toda feita de madeira, com uma linda cerca de galhos de árvore trançados. Assim, ela seguia por uma Vargem Grande cheia de eucaliptos, e bem à frente, aparecia o valão de nome Catarina, com seu pontilhão de madeira, local de parada dos cavalos beber água limpa e fresca. Mais à frente, lindas palmeiras eram vistas de longe, nas terras de um padrinho fazendeiro. Ela caminhava feliz, levantando com os pés a areia que encontrava pelo caminho; não sabia a menina que, lá na frente, aquela areia fina viraria pó de ouro da sua morada no campo. Bem próximo, do lado direito, um velho casarão com portas abertas para estrada dava lugar a uma venda, era parada dos senhores para uma boa prosa. Um atalho à direita entrava para um lugar chamado Ninho dos Anjos - lindo nome! Que anjos moram ali? Logo em seguida, um pontilhão de madeira corta um valão de águas cristalinas, transparecendo saudáveis peixinhos. Seguindo a estrada, logo se avistava de longe um grande campo de futebol, na propriedade do Sr. Dega, hoje com  anos - que bênção As partidas de futebol era alegria dos rapazes e moças do lugarejo numa tarde de domingo, como contava a irmã mais velha. Em seguida, uma pequena pausa para descanso numa pequena pedra, sob a sombra de uma árvore amiga. O campo futebol e a pedra estavam do lado esquerdo da estrada, mas era sempre do lado direito que as emoções com contemplação, afloravam forte - será por quê? Antes da subida, uma casinha de taipá, onde a felicidade abrigava um casal de velhos bondosos, parada obrigatória para uma boa conversa e um bom café.  

Agora era hora de subir a serra, adentrando uma matinha fechava, cortada por um refrescante valão, onde se ouvia um barulho de água corrente deslizando graça e espuma entre as pedras; o corpo agradecia a temperatura fria, que ventilava até na alma. Dizem que, por dentro da mata fechada, morava uma velha e folclórica mulher solitária chamada Pequinina. Na subida do morro, havia uma entrada para o Beco, lugar de poucas casas, mas de gente trabalhadeira. Na inclinação da estrada, o pé de Santana roxa, insiste em florescer e embelezar o caminho, sem falar nos contos de assombração que aconteciam sempre naquele lugar. Terminando de subir a serra, avistava a porteira, o valão, o morrinho, e a casa; essa cena enchia os olhos da menina de alegria e satisfação! Nessa casa de roça, ela passa dias maravilhosos junto dos sobrinhos já bem pequeninos! Mas algo na casa, aguçava a curiosidade da menina: um barulho estranho que vinha bem debaixo de um pequeno corredor de madeira; percebia-se pelas frestas das tábuas no chão uma movimentação fora do comum. O que será? Foi quando o som do cacarejar fez a dona da casa levantar uma das tábuas de madeira e colher graúdos ovos num belo ninho de uma galinha poedeira!
   
E assim continuamos felizes pela estrada afora!

6 comentários:

  1. Lindo Bere!!!
    Muito emocionante!!!
    Parabens!!!

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  2. Que crônica maravilhosa.!!! Cheia de emoção em cada detalhe e situação vivenciada.As lembranças deste tempo vieram à tona. Quanta sensibilidade e inspiração!!!

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  3. Obrigada pelo carinho é um bom incentivo. Não sei por que estou visitando tanto o passado!

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