domingo, 22 de setembro de 2013

V Festival Aberto de Poesia Falada de São Fidélis

FINAL

1º Lugar - VASSOURA DE OUTONO – Ademir Martins - Macaé-RJ

2º Lugar - FLOR DO DESERTO – Edelson Rodrigues Nascimento – Brasília-DF

3º Lugar - O INFERNO CRONOLÓGICO DO POETA  – Tanússi Cardoso – Rio de Janeiro-RJ

Melhor Intérprete - THIAGO - São Fidélis

Menção Honrosa - VASSOURA DE OUTONO

(fonte youtube - www.sfnews.jor.br)


VASSOURA DE OUTONO
 

Pende frontalmente esse tronco
de mulher varrendo o outono
da calçada.

- Uma cerimônia de décadas...
Sabe-se lá quantas nervuras, outrora verdes,
já – secas – flutuaram seus corpos em coreografias,
dos ramos às fibras de seu fiel instrumento...
(diário, permanente, sacro rito doméstico.)

Duas tetas, estreladas,
choram no côncavo peito,
murchas de idos filhos
- longes filhos... -
desmamados... para onde?...
(Felizes os rebentos... seriam?
Teriam completado os estudos?... Formaram-se doutores?...
Casaram-se?...
E os netinhos... tão lindos... tão sonhados!...)

O que poderia saber sobre ela,
eu, que somente passei meu caminho
diante da firme carícia da piaçava no cimento?
Mais adiante, a boca de lobo, em silêncio, agradece:
- “Água há de passar sem que eu engasgue.”
(sem que o quarteirão se entupa, se desespere de enchentes,
se afogue...)

Uma sensação (minha ou dela?)
de que, se larga a ferramenta,
espatifa-se a face no chão.
Mas ela não larga: prossegue, sustenta,
determinada, a higiene da fachada.
(Tudo precisa ser limpo – tudo na vida!...)

Quem estaria à sua mesa no próximo domingo?
Frango, maionese, macarronada,
serena mousse de maracujá, as peras merengadas, aprendidas na TV...
- ... tantos sabores!... –
- para que bocas?...
E tem mais:
haveria o próximo domingo?...

Sua mão esquerda é mais triste:
duas alianças.
- ouro funde-se em ouro
de eternas bodas de mel,
na mística, alquímica joalheira,
de aqui e do além: um só largo anel!
- um homem é ressuscitado
diuturnamente em seu apenas dedo
anular esquerdo!

Ah, como passam as estações
sem dar conta alguma de sua irredutível vassoura!
E como – com que dor!... –
seus olhos acusam o vento e a beleza das árvores
diante da casa!...

(Ademir Martins)

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