Desde 2009, por decisão unânime de oito países, Brasil, Portugal, Moçambique, Angola, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné_Bissau e Timor Leste que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP),este órgão, dedica-se o quinto dia do mês de maio as homenagens à Língua e à Cultura de origem portuguesa.A CPLP justifica a decisão pelo facto de a língua portuguesa constituir entre os povos da comunidade, "um vínculo histórico e um patrimônio com resultados de uma convivência multissecular que deve ser valorizada."
Declaração de amor
Clarice Lispector
Esta é uma declaração de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável.E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutileza e de reagir às vezes com um pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e alerteza. E de amor.
A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa do superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes assusta com o imprevisível de uma frase.
Eu gosto de manejá-la - como gostava de estar montando num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope. Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar uma herança de língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que minha abordagem do português fosse virgem e límpida.
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