Ao entardecer
o tempo foi se fechando
e uma chuva fina, feito fumaça
declinava entre os altos edifícios de uma rua
molhando os nossos vestidos, como pingos de estrelas flutuantes.
Sem o guarda-chuva
apertamos os passos pelas calçadas
ao encontro dos apetitosos panetones
— É tempo de Natal!
Logo, nos deparamos com uma mulher
com dois meninos brincando soltos pelas calçadas
Talvez os seus filhos.
As crianças na sua santa inocência
se deliciavam com a chuva prateada
banhando a sua natureza frágil, e
olhavam com admiração, a água que contornava
os pneus dos carros estacionados.
Encontrava-se bem próximo à mulher
uma jovem-menina acanhada
Talvez a sua filha.
As duas encontravam-se sentadas numa pequena
e apertada soleira, de um portão de entrada
de uma casa abandonada, com
um mísero guarda-chuva quebrado
cobrindo os seus corpos já tão gastos com à vida.
Elas se esquivavam da chuva fina, feito fumaça
contorcendo os seus corpos.
Enquanto os meninos brincavam com a água.
Parecia que a chuva não incomodava!
É um bem necessário a alma carente de refrigério.
É uma conexão com a natureza e as suas dádivas
tornando possível a alegria de uma sobrevivência humana.
Quanto a nós, murmuramos da nossa situação:
— Como vai ser agora, sem guarda-chuva!
A mulher ouvindo a nossa queixa
lamentou disfarçadamente:
— Como vai ser agora, digo eu:
— sem teto
— sem trabalho
— sem sustento
— sem ter para aonde ir
— sem saber o que é Natal
— com filhos pequenos para criar
Essa mulher, fez lacrimejar os meus olhos.
É tempo de Natal!
Mariz e Barros, dezembro 2021
Berenice Seixas
Maravilhoso...
ResponderExcluirObrigada
ExcluirQuanta sensibilidade!!!Fiquei muito emocionada com sua poesia pois vivenciamos essa situação e você absorveu a essência . Que talento!!!
ResponderExcluirParabéns!!!Que a inspiração sempre te encontre.
Obrigada.
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