sábado, 18 de dezembro de 2021

Chuva Fina

 


CHUVA FINA

Ao entardecer

o tempo foi se fechando

e uma chuva fina, feito fumaça

declinava entre os altos edifícios de uma rua

molhando os nossos vestidos, como pingos de estrelas flutuantes.

Sem o guarda-chuva

apertamos os passos pelas calçadas

ao encontro dos apetitosos panetones

— É tempo de Natal!

Logo, nos deparamos com uma mulher

com dois meninos brincando soltos pelas calçadas

Talvez os seus filhos.

As crianças na sua santa inocência 

se deliciavam com a chuva prateada

banhando a sua natureza frágil, e

olhavam com admiração, a água que contornava

os pneus dos carros estacionados.

Encontrava-se bem próximo à mulher

uma jovem-menina acanhada

Talvez a sua filha.

As duas encontravam-se sentadas numa pequena 

e apertada soleira, de um portão de entrada 

de uma casa abandonada, com

um mísero guarda-chuva quebrado 

cobrindo os seus corpos já tão gastos com à vida. 

Elas se esquivavam da chuva fina, feito fumaça 

contorcendo os seus corpos.

Enquanto os meninos brincavam com a água.

Parecia que a chuva não incomodava!

É um bem necessário a alma carente de refrigério.

É uma conexão com a natureza e as suas dádivas

tornando possível a alegria de uma sobrevivência humana.

Quanto a nós, murmuramos da nossa situação:

— Como vai ser agora, sem guarda-chuva!

A mulher ouvindo a nossa queixa

lamentou disfarçadamente:

— Como vai ser agora, digo eu:

— sem teto

— sem trabalho

— sem sustento

— sem ter para aonde ir

— sem saber o que é Natal

— com filhos pequenos para criar

Essa mulher, fez lacrimejar os meus olhos.

É tempo de Natal!

Mariz e Barros, dezembro 2021

Berenice Seixas

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