domingo, 14 de setembro de 2014

Semana Cultural - VI Festival Aberto de Poesia -

- Banda Instituto Ritmus -
- Sala acervo Rita Maria Abreu Maia -
- - Voz e violão com Paulo Ciranda -
- Premiação - "VI Festival Aberto de Poesia" -

Hoje (13) chegamos ao último dia da Semana Cultural que foi sensacional. A "Feira de livros" na praça um sucesso! Reapresentação da banda do "Instituto Musical Rtimus" deu um show à parte. A inauguração da sala acervo"Rita Maria de Abreu Maia"foi de grande preciosidade para a biblioteca municipal, a cerimônia contou com a presença de sua mãe dona Carlota, suas irmãs Glorinha e Nair, o marido Carlos Orlando, vários amigos e autoridades. No Anfiteatro da Biblioteca foi oferecido um coquetel, e logo em seguida o cantor e compositor Paulo Ciranda apresentou um Recital de "Voz e Violão" que encantou a todos. Pra fechar com chave de ouro foi apresentada a última etapa do VI Festival Aberto de Poesia" espetacular!! Na praça de alimentação show musical com a banda Café Tropical. Até mais!
(fotos - www.saofidelisrj.com.br)

Premiação;
1º Lugar - "E ASSIM POR DIANTE" - Geraldo Evangelista - São Fidélis RJ
2º Lugar - "DESPEDIDA DE AMELIA" - Eder Rodrigues - Pouso Alegre MG
3  Lugar -  EU CANTO UM VERSO PROCÊ" - Marco Antonio Comini Christófaro - Patos de Minas MG
Melhor Intérprete - Marco Antonio C. Christófaro
Menção Honrosa - Geraldo Evangelista

E ASSIM POR DIANTE
(Geraldo Evangelista)

Consegui encontrar o poema da cidade,
na ponte, à tarde, quando o sol entrou na serra,
depois de um banho de luz no rio.

Ele era o vento.
Tantas vezes no meu rosto!
Já era hora deste arrepio
corpo a dentro.

Agora eu sei,
o poema não era o fenômeno,
mas o momento.

Lá de cima,
pode ser toda cidade;
daqui pode ser até saudade
da pracinha da lagosta,
da copa solta das árvores,
das andorinhas, com seus espetáculos
raros, para quem olha para o céu
sem fel

Agora eu sei,
a poesia não era o fato,
mas o acontecimento...

Passo e vejo enfim que é tempo de flores
pelo chão da praça.
Bobeira,
quanta graça de mim agora,
por poemas que não vi ...?!
Quantos perdi, pela vida inteira:
na cisma dos moços, no xadrez das ruas...?!
No efeito da lua sobre o rio,
reagindo no semblante daquela
que não sabe um fio da minha espera.

Agora eu sei,
o poema não era a imagem,
mas o ângulo.

Na minha lenda,
a Bela Joana é agora muito mais bela
e o Sapateiro está ainda lá naquela Serra,
trabalhando!

Também chego de trem
na estação, de quando em vez;
vou ao cinema
e depois canto no show do Dirlei,
onde nunca cantei.

São Fidélis,
fecho os olhos e vejo os Frades gerando a aldeia:
Brancos, negros, índios ...!
Chapas da igreja
que se erguia, sã e bela,
sobre o plano.

Das sapatas à poesia de Antônio Roberto,
Nas missas das manhãs singelas,
duzentos anos!

Agora eu sei,
o poema não queria entrar,
mas sair dos meus olhos.

Aqui, para cá dos poros,
nunca o foi a Praça dos Poetas
nem o peso de se ter um belo apelido;
tão pouco o meu desejo de olhar,
como o olhar do Pedro Emílio,
que poesia não tem fim.

Agora eu sei,
a verdade,
é que só há poema na cidade
Quando há poema em mim.

E assim por diante ...

***

DESPEDIDA DE AMÉLIA
(Éder Rodrigues)

"Depois a noite, corpo imenso. E a palha do meu nome.
Que verso te recompõe? Que fibra te comove ainda?"
Hilda Hilst

Amanhã, livrarei a anca dos apertos na cintura,
diante dos rumos que nunca vingaram
na minha mania de só olhar por frestas.
A porta da rua acordará cedo, como de costume,
mas não serei a serventia da casa.
Engolirei a fome pelos azuis que o céu contorna,
até enterrar cada trapo perdoado pelos séculos assim.
Rendado o mais estreito dos domingos,
desabam os altares onde aprisionei meus santos,
e para não incomodar teu sono, arranhei o samba
bem na parte que cicatrizou meu nome.
Nada de coque e sem os provérbios de sempre,
já que poesia não combina com toalha de mesa.
Ainda que me falte a vista e os passos brindem incertos,
rasgarei a coleção da folhinhas de natal
até me despir de cada um dos afazeres.
Amanhã pregarei outro botão no seu corpo ausente,
desregrada pela fé onde sempre me dei graças
para nada ser perante as coisas.
Decerto que o passado cerzirá cada poente
despedaçado dessa labuta sem meios.
Depois de terços e mais terços encadeados
pela solidão que rendeu métrica e dança no pé,
escorrerei espelho adentro.
Tomara que ao menos metade de mim apareça
na dúvida dos reflexos e eu não tenha mais 
que fazer das tripas, coração.
Manda fazer outra letra de música para cantar
lá no morro porque hoje afrouxo as pregas do vestido
e lá fora provarei de cada gosto, cheiro de lonjura
para ver se realmente Amélia era "de verdade."

Amanhã e só a manhã me quer
nesta mulher que não mais aparecerá no fundo de teu olho
nem coroada com o enxoval destronado de tuas rainhas.
Amélia se despede e sai rogada de promessas
para cobrir a velhice num vestido novo,
florido e sem a goma dos guardados.
Neste amanhã que chegará milagre ou satisfeito.
Trazendo o corpo de ontem disfarçado de manhã
e as flores do vestido na bandeja do seu café.

***
EU CANTO UM VERSO PROCÊ
(Marco Antonio Comini Christófaro)

Eu canto uns verso procê
Se ocê dé de cumê.
Que a coisa é braba, sá dona!
e, se não fosse a sanfona,
de fome eu ia morrê!

Eu canto uns verso procê,
e logo passo o chapéu.
Cruzado, dólar, guinéu,
Tudo o que cair vai bem
e eu nem num faço escaréu!

Eu canto uns verso procê,
mas enche a minha sacola.
Cantadô num pede esmola.
Só troca o som da viola,
com quem lhe dá de cumê.

Eu canto uns verso procê,
não a troco de salário,
que isso é coisa de otário.
Antes de chegá ni mim,
o leão já deu dentada,
levô a maior bolada,
me deixou só um tiquim.

Eu canto uns verso procê.
melhor que sê professô
de direito do labô.
Eu ganho menos, bem sei.
Muito menos, é provável.
Mas tudo é "não tributável"!

Eu canto uns verso procê
aqui na porta da venda.
por favor, seu moço, entenda
que o que eu ganho c'as canção,
não faço declaração
nem pago imposto de renda.

Eu canto uns verso procê,
ainda que o tal imposto
só sirva pra dar desgosto
pro pobre contribuinte
que, além de pagar, empresta
até no ano seguinte.

Eu canto uns verso procê,
que é, também, contribuinte,
paga tudo que é imposto
e, por isto, traz no rosto
a marca desencanto.
Quem devia pagar muito
só paga pouco, ou nem tanto!

Eu canto uns verso procê
que não sabe, e nem parece
que paga ISS, ICM, IPTU,
imposto de renda, IPI
e, no fim ... oh!

Eu canto uns verso procê
que, desde que era menino,
não sabia o seu destino
e nem sabe, até agora.
Pois sempre ouviu, e ainda ouve
Só promessa de melhora.

Eu canto uns verso procê,
que ainda tem esperança
de que, um dia, vai vivê
em uma grande nação.
E, mesmo pagando o pato,
inda encontra candidato
pra votá nas eleição!

Eu canto uns verso procê
e tomo esta cachaça
que, por mais mal que me faça,
me serve de lenitivo.
Por causa dela é que eu vivo,
mesmo num mundo tão duro,
na doce ilusão de que estou
no tal país do futuro!

Eu canto uns verso procê
e tomo outra cachaça ... ah!
E tomo outra cachaça ... ah! ah!
E tomo outra cachaça!
E tomo outra cachaça!
E tomo outra ... cachaça ...
E tomo ... outra ... cachaça ...
E tomo ... ou ... tra ... ca ...cha ... ça ...
E ... to ... mo ... ou ... tra ... ca ... cha ... ça ...
E ... to ... mo ...ou ... tra ... ca ... cha ....

***

Nenhum comentário:

Postar um comentário